Liberdade,
liberdade, abre as asas sobre nós ...
Oi,
gente! Tudo bem?
No próximo dia 26 de março, acaba a escravidão no Brasil. Depois de 113 anos, o trabalhador brasileiro mais uma vez se verá livre da servidão. É nesse dia que entrará em vigor a Nova Lei do Passe, que liberta os jogadores das ordens espúrias dos dirigentes e do jugo cruel dos empresários.
A Lei, criada originalmente por Pelé quando este era Ministro dos Esportes e hoje já bastante remendada e deturpada, entre outras coisas estabelece o fim do passe. Ou seja, o jogador é dono da sua própria vida e por conseqüência, da sua carreira profissional. Ele que escolhe para que time vai e para isso, basta o clube de destino depositar uma multa rescisória na conta do clube de origem. Nunca mais veremos casos como o de Juninho Pernambucano, que atualmente, está encostado no Vasco, querendo sair, mas impedido de faze-lo pelo seu passe estar “preso” ao time carioca.
No Brasil, o passe surgiu ainda nos tempos de amadorismo, quando os times ofereciam pedaços de terra aos melhores jogadores desde que esses disputassem um campeonato pelo clube. É conhecido o caso do Scottish Wanderers (time da colônia escocesa de São Paulo que disputou o Campeonato Paulista entre 1914 e 1916), no qual os jogadores dividiam a renda somente entre aqueles que estudassem no Colégio Mackenzie.
A situação, assim como o futebol, progrediu e acabou por descambar. O passe vincula o atleta ao clube e ao clube o jogador literalmente pertence e dele só pode sair com autorização expressa por parte do seu “dono”. Enfim, uma verdadeira “carta de alforria”.
E os clubes, aproveitando-se de uma necessidade do atleta escrevem cláusulas imorais nos seus contratos, o que garante ao time a presença permanente do jogador.
No sábado passado (dia 3), ouvi na Rádio Bandeirantes o ex-goleiro Martorelli (com longa passagem pelo Palmeiras), que hoje é presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais do Estado de São Paulo. Foi uma interessante conversa sobre a Lei do Passe e as opiniões de constatações de Martorelli foram de grande importância.
Entre outras coisas, ele disse que um dos motivos desse descalabro do passe escravizador é a desunião da classe de jogadores. Eu concordo com a opinião do ex-goleiro: afinal, por que um jogador que ganha 100 mil dólares por mês vai se preocupar com outro que não ganha nem mil reais?
Além disso, o jogador que procura o sindicato para fazer valer os seus direitos é mal-visto pelos dirigentes e fica “queimado”. É famoso o caso do jogador Claudinho. Quando no Juventus, o jogador lutou pelo seu passe e conseguiu a liberdade. No entanto, demorou quatro anos (!!) para conseguir outro time para jogar. Um absurdo.
Quando comecei a estudar sobre a Nova Lei do Passe, pensei no exemplo de um time muito simpático e tradicional: a Ponte Preta. O time campineiro é um valoroso revelador de talentos e praticamente sobrevive com o dinheiro que ganha nas transferências. Imaginei como a Ponte Preta iria se virar sem essa fonte de renda. Certamente, ela acabaria, assim como muitos outros times pequenos.
Mas por outro lado, o que um time faz pelo jovem que chega ao clube? Coloca-o sob as arquibancadas, um alojamento exíguo e apertado, um “pão-com-ovo” e o que mais? É claro que entre duzentos meninos, vão surgir cinco ou seis candidatos a craque. E são esses que vão sustentar o clube por algum tempo. E os outros que sobraram? Voltam para suas casas, ilusões desfeitas e bolso vazio.
Sinceramente, espero que os times que fazem isso com os jovens acabem mesmo. Para que serve um clube que age dessa forma? Afinal, como eu já disse na coluna anterior, creio ser o esporte muito mais um instrumento social do que qualquer outra coisa.
O que me assusta é ver deputados federais que considero bem-intencionados -mais claramente Paulo Paim- estejam se iludindo com as palavras nada imparciais de Eurico Miranda, Zezé Perrella e Luciano Bivar, todos eles presidentes de grandes clubes (Vasco, Cruzeiro e Sport Recife, respectivamente) e com suspeitíssimos interesses no adiamento da aplicação da Nova Lei do Passe.
Desejo que essa Lei não seja mais uma daquelas que “não pegam”. Espero que ela venha revestida de honestidade e que o nosso futebol renasça desse lamaçal em que ele se encontra. Que isso seja o começo de uma necessária reviravolta.
PÍLULAS
DE IDÉIAS
#
Cacá, 18 anos, foi o nome do jogo em que o São Paulo venceu o Botafogo por 2 a
1, conquistando pela primeira vez na história, o título do Torneio Rio - São
Paulo. Num jogo com um impressionante número de faltas (63!), o Tricolor
Paulista, que foi um dos maiores campeões do século XX, ganhou o primeiro título
do século XXI. O jovem Cacá fez os dois gols que decretaram a virada do São
Paulo e o título. Destaco as atuações de Rogério Pinheiro (muito seguro),
Maldonado (eficientíssimo, mesmo sem aparecer para a torcida) e Júlio Batista
(que me lembra Mauro Silva). Parabéns ao São Paulo F.C. por mais uma vitória!
# Quando todos supunham que Palmeiras e Corinthians lutariam para não serem rebaixados, eis que surge a primeira “pré-virada de mesa” da história do futebol. Aproveitando-se de um decreto de 15 anos, Eduardo Farah (presidente da Federação Paulista), declara que se terminarem nas últimas posições do Paulistão disputarão a vaga na 1a. divisão em 2002 contra o vice da atual Segundona. Futebol sério? Onde? Onde?
# Assumido filhote de Felipão, o técnico Celso Roth chega ao Palmeiras para apagar o incêndio do fracasso que se configura. E declara que “... o Palmeiras não vai jogar bonito...” e que faz questão de escalar o time com três volantes de marcação. Futebol? Onde? Onde?
#
É muito bonito ver Zagallo emocionado ao ganhar o título. Não concordo com o
futebol que ele preconiza, mas já não se fazem técnicos que genuinamente amam
o time que dirigem.
# O lateral-esquerdo Felipe (ex-Vasco), chega ao Palmeiras na troca de Euller. Como jogador, é maravilhoso, dono de uma técnica ímpar. Mas tem um comportamento muito problemático. Não quero rotular ninguém, mas o Palmeiras não é reformatório e sim um time de futebol.
#
Real Madrid 2 x 2 Barcelona. Foi no sábado (dia 3), um jogo histórico,
belíssimo, de muita rivalidade. Rivaldo quase fez o Barcelona vencer, tendo um
gol injustamente anulado no fim do jogo, além de ter feito um grande gol de
fora da área. Quem dera Rivaldo fosse assim na Seleção Brasileira.
# Falando em Seleção. O
jogo contra os Estados Unidos foi absolutamente medíocre, talvez fruto de um
planejamento catastrófico e um esquema de jogo confuso. De bom, pudemos ver Rogério
Ceni, Lúcio, Silvinho e Euller. Leão inventou Christian, espero que esqueça
dele e mantenha Euller no time titular. De resto, nada de importante.
# Já o jogo entre Brasil e México
começou muito mal para a nossa Seleção, com um dois a zero contra uma seleção
mexicana desfalcada e em crise. Romário (que mal tocou na bola, assim como
contra os Estados Unidos) fez dois gols e salvou o Brasil de um vexame maior.
Mas como exigir futebol entrosado de um time que joga sem treinar? A desorganização
ainda acaba com o futebol brasileiro.
# O sorteio para o 2o.
Mundial de Clubes (que começa em 28 de julho, na Espanha) foi feito na última
terça-feira, dia 6. O Palmeiras caiu no grupo do Galatasaray da Turquia, Olímpia
de Honduras) e Al Hilal da Arábia Saudita. Aparentemente um grupo fácil, mas o
Galatasaray tem um time muito bem armado, que joga junto há muito tempo. Na
coluna da próxima sexta, farei uma análise mais detalhada de cada grupo.
#
Antonio Cassano, meio-campo de 18 anos do Bari, da Itália, foi vendido por 30
milhões de dólares ao Roma (também da Itália). Absurdo dos absurdos. Não há
jogador no mundo, que valha esse dinheiro, que dirá um atleta de 18 anos. Fico
pensando: quanto vale Romário? Quanto valeria Pelé? O que está
verdadeiramente por trás dessa cifra extraordinária? É impossível não
pensar em algum tipo de burla à lei.
# O meio-campista português
Luís Figo deu uma entrevista revoltante para O Estado de São Paulo. Entre
outras coisas, ele diz que não sabe nada sobre o Brasil ou jogadores do Brasil,
não se interessa em ler nada sobre o futebol que não trate dele, com uma empáfia
que beira o nojo. Lamentável. Toda minha admiração pelo seu jogo foi por água
abaixo. Hoje, para mim, ele não é nada.
# Fórmula 1 é um esporte que eu nunca me apaixonou, mas depois da morte de Senna, perdeu toda a graça. Schumacher ganhou na Austrália, numa corrida onde um comissário morreu, atingido por um pneu que soltou do carro de Jacques Villeneuve no acidente deste com Ralf Schumacher. Se fosse no Brasil...
# Gosto de boxe, numa corrente contrária à maioria dos colegas. Mas boxe feminino (onde a filha de Muhammed Ali tem se destacado) é de uma estupidez asinina.
# Só para lembrar: faltam três semanas para Pelé explicar o seu envolvimento com Ricardo Teixeira.
Fala,
Internauta!
# O jornalista Coriolano Júnior
diz que está criando um site chamado Sentidos, onde falará sobre Esportes para
Deficientes, inclusive futebol. Parabéns pela iniciativa!
# Adriana de Castro
(jornalista do SporTV), me escreve falando que eu não devia ter dito que o
Botafogo não tinha mais chances de ser campeão do Rio-São Paulo, pois não há
lógica no futebol. Adriana, o futebol dá a lógica em noventa por cento das
vezes, e como diz a lenda, o Botafogo só ganharia se “a moeda caísse em pé”.
# Rodolfo Coelho Prates,
professor de Economia na linda Curitiba, achou interessante a ligação que fiz
entre Geografia e Futebol. Rodolfo, essas são minhas grandes paixões. Falar
sobre elas é sempre um prazer.
#
Agradeço às manifestações enviadas. Um abraço aos leitores José Maia,
Mariana Cotrim, Rafael de Andrade, Fabio Hideo, Mauro Jucá, Marcos Giusti,
Marianne Lépine, Tiago Mattos, Cláudia Levy, Geraldo dos Santos, Sílvio
Atanes, Clóvis Amorim e ao pessoal do Aboladabola, representado pelos
excelentes Rodolfo Kussarev Jr. (outro apaixonado por Geografia) e José Jorge
Farah Neto. Assim caminharemos juntos.
#
Essa coluna está sendo publicada dia 9 de março. Nesse dia, sinto muitas
saudades da minha avó, D. Wally. Exemplo de humildade e bondade, criou-me
quando minha mãe precisou trabalhar e me fez, no mínimo, feliz. Se foi em 1987
e fazia aniversário em 9 de março. Em silêncio, choro a sua ausência.
#
Mário Covas. Saudade é pouco.
# Até semana que vem. Namastê!
Qual é sua opinião
sobre este artigo? Você gostou deste artigo ?
Os dados a seguir são OPCIONAIS: Deseja enviar uma mensagem ao autor desta coluna?
|
Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida, armazenada em sistema de recuperação de dados ou transmitida, de nenhuma forma ou por nenhum meio eletrônico, mecânico, de fotocópia, gravação ou qualquer outro, sem a prévia autorização por escrito do autor.