Futebol
por Luiz Fernando Bindi
Maio 04, 2001

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Sócrates: presidente da CBF?

Oi, gente! Tudo bem?

Numa interessantíssima entrevista na Rádio CBN, o ex-jogador Sócrates deixou claro, mais uma vez, que aceita a idéia de ser presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. 

De fato, seria uma alegria muito grande ver a ética e a honestidade tomando conta dos rumos do nosso futebol. Desde a época de jogador, Sócrates teve uma postura politizada, totalmente diferente do desinteresse profissional que assola nossos craques. 

Foi de Sócrates a idéia da muitíssimo bem-sucedida da Democracia Corinthiana, que inaugurou um sonho de liberdade na relação entre jogadores, dirigentes e torcidas. Movimento esse, aliás, que sofreu um boicote por parte do goleiro do Corinthians à época -por sinal, Émerson Leão. 

Entre outros aspectos, algumas coisas puderam ser garimpadas na excepcional entrevista, que revelou um Sócrates ligeiramente mal-humorado, talvez desenxabido com a tristeza que vem inundando nosso futebol. 

O “Doutor” disse que o futebol brasileiro está prostituído e que a maioria dos técnicos tem participação nos lucros da venda de certos jogadores. O único que não aceita isso, segundo Sócrates, é Oswaldo de Oliveira que por esse motivo não está em nenhum clube. 

Sócrates defende o voto direto para presidente da CBF. Sim: eu, você leitor, todos nós votaríamos em um dos cargos mais importantes do nosso futebol. Seria constituído um colegiado (parlamentarismo no futebol?), visando sempre a democratização do esporte. 

Seria tudo isso um sonho, uma utopia? Certamente nenhum dos dirigentes brasileiros suportaria imune um código de ética. Evidentemente, um ex-jogador isento como Sócrates não seria bom para nossos cartolas. 

Mas sonhar é necessário. Como disse o maravilhoso poeta gaúcho Mário Quintana, “...o sonho é o início da verdade.” 


Para não perder: Exposição sobre Futebol de Várzea no Memorial do Imigrante, próximo à Estação de Metrô do Brás. Para maiores informações: www.memorialdoimigrante.com.br. Romantismo, pureza e muita emoção permeiam essa linda mostra iconográfica. 

Pílulas de Idéias 

# No jogo Bangu 1 x 1 Americano, no domingo, dia 29 de maio, o juiz Reinaldo Ribas voltou atrás na anulação de um gol do Americano após receber um telefonema (dentro de campo!!) do presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Eduardo “Caixa d’Água” Vianna, que por coincidência é patrono do Americano. Como eu disse, a Seleção Brasileira é só um sintoma da infame administração do nosso futebol.

# Nesse fim-de-semana (dias 5 e 6), começam as semifinais do Campeonato Paulista de 2001. Enfrentam-se Ponte Preta x Botafogo de Ribeirão Preto e Santos x Corinthians. Ponte e Santos jogam por dois empates ou dois resultados iguais (uma vitória e uma derrota por saldo de gols idêntico, por exemplo).

# A Ponte Preta foi a primeira colocada na primeira fase do Campeonato, fato que se estivéssemos em outro país, lhe o merecido título. Agora, ela terá que enfrentar uma chave eliminatória e pode ser alijada da disputa por uma questão de sorte e azar. Tem um time arrumado, sem grandes craques (apesar do zagueiro Rodrigo impressionar) e um técnico competente.
# Classificado graças à infeliz regra que previa disputa de pênaltis/ no caso de empates (se não fosse essa regra, o classificado seria o Palmeiras), o Botafogo chega como um franco-atirador, depois de 25 anos sem estar entre os quatro primeiros. O time é fraco, mas pode crescer no jogo em Ribeirão Preto, pois está com o astral em alta.
# Até três semanas passadas, o Santos tinha 4% de chances de classificação. Passou por cima da lógica e da matemática e chegou em segundo lugar. O tempo de fila (que chega a 17 anos sem títulos importantes) certamente cria uma expectativa que pode desestabilizar. Além disso, enfrenta um Corinthians em ascensão. No entanto, pode jogar por dois resultados iguais.
# Depois de uma reação emocionante, o Corinthians bobeou e foi derrotado pelo São Paulo. Conseqüentemente, entrará em desvantagem no confronto contra o Santos. No entanto, tem um time superior aos outros três oponentes das semifinais, apesar de um equilíbrio emocional muito delicado (na derrota para o São Paulo, alguns jogadores se negaram a dar entrevistas).
# Triste mesmo foi o rebaixamento do Guarani de Campinas. O alviverde campineiro encontrava-se na 1a. divisão do futebol paulista desde 1949 e desde que subira nunca havia sido rebaixado, coisa da qual sua torcida muito se orgulhava. Mas há muitos campeonatos (Brasileiros, inclusive), que o Bugre escapava por pouco do descenso. Luís Roberto Zini, ex-presidente do time, deixou o Guarani afundado em dívidas, além de um sem-número de processos trabalhistas. O time desse ano nem era tão fraco, mas a regra dos pênaltis derrubou a campanha campineira. O Guarani fará falta no Paulistão 2002, mas que volte em 2003 por vias honestas e não como o São Paulo voltou em 92.  
# O outro rebaixado no Paulistão foi o Mogi-Mirim. Curiosamente, o Sapão (apelido do time), é um clube muito bem estruturado, com um estádio de alto nível e área social privilegiada. Mas, como querer um bom time se na 8a. rodada, três técnicos já haviam passado por lá?  

# O estádio Farahzão, de Presidente Prudente, estava cheio (mais de 40 mil pagantes) e a festa foi bonita e organizada. No entanto, sou frontalmente contrário a clássicos disputados no Interior: cada time tem seu estádio e é lá que os jogos devem ser disputados e não longe de suas casas e torcidas.

# O Vasco massacrou o Botafogo por 7 a 0. Até aí, tirando a goleada mais do que histórica, nada demais (bem mesmo porque o jogo foi até bem fraco). Na quarta-feira, dia 2 de maio, o presidente botafoguense dispensou oito jogadores, todos eles com sete meses de salários atrasados. Esse tipo de imoralidade a CPI não vê? A quem interessa essa cegueira ética?  

# Na semana que passou, surgiu na imprensa a notícia que o Arsenal, da Inglaterra, fizera uma proposta supostamente irrecusável pelo excelente Rogério Ceni, do São Paulo. Assim como no caso Luizão-Corinthians, a divulgação apressada do fato causou mal-estar no Morumbi. Chegou-se a cogitar que o goleiro nem jogaria no final de semana contra o Corinthians. Os dirigentes precisam esquecer que o passe acabou e que Rogério Ceni foi muito ético e honesto ao abrir o jogo e não o contrário. 

# Acabou o Campeonato do Nordeste, a melhor idéia que os dirigentes brasileiros já tiveram nos últimos cem mil anos. O Bahia, de Evaristo de Macedo, sagrou-se campeão, ressuscitando o Tricolor da Boa Terra, que andava meio sumido. Setenta mil pessoas lotaram a Fonte Nova para assistir a vitória do time da casa por 3 a 1 sobre o Sport Recife de Levir Culpi. O grande destaque do time campeão foi Alex Oliveira, que chegou discretamente vindo do Vasco e mostrou muita categoria e raça. Aí está a ficha completa do jogo final:

Bahia 3 x 1  Sport Recife

Estádio: Fonte Nova, em Salvador (BA)

Público: 74.924 pagantes

Árbitro: Antônio Pereira da Silva (GO)

Cartões amarelos: Jean Elias (Bahia) e Rodrigo (Sport Recife)

Gols: Preto, aos 24 e Nonato aos 42 do primeiro tempo, Leomar, aos 12 e Nonato, aos 31 do segundo tempo.

Bahia: Emerson, Japinha, Jean Elias, Carlinhos e Jefferson; Preto, Bebeto Campos, Capixaba (Mantena) e Alex Oliveira; Róbson (Washington) e Nonato (Fábio Costa). Técnico: Evaristo de Macedo.

Sport Recife: Zetti, Rodrigo, Érlon, Flávio e Rondinelli; Leomar, Sidnei, Valdo e Eduardo Marques (Fabinho); Leonardo e Gílson Batata (Irani). Técnico: Levir Culpi

# O Remo, de Belém do Pará, entra com tudo na luta para participar do Campeonato Brasileiro de 2001. Um dos seus articuladores é Jader Barbalho, presidente do Senado. Preciso dizer algo além de lamentável?

# Mais um livro para quem ama futebol: Futebol Brasileiro 1894 à 2001 (R$ 14,90 nas bancas de jornal), de autoria de Marco Aurélio Klein, estudioso do futebol e competente palestrante. Editado pela Escala, o livro é delicioso, com muitos números, dados, histórias e distintivos. Tem seus erros (que serão certamente corrigidos na próxima edição), mas é daqueles livros que não se consegue largar.

# Alguém já ouviu falar de Mailton Nogueira? E de Charlynton da Silva? São dois caratecas que irão disputar o Mundial de Karatê em junho, representando o Brasil. Eles moram em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo e treinam numa quadra descoberta em um abandonado centro esportivo da Prefeitura. O chão de cimento da quadra queima-lhes os pés, a chuva os impede de treinar e o ginásio, onde treinariam, ameaça cair sobre suas cabeças. É inacreditável o que oito anos de desmando e corrupção fizeram com a nossa cidade e com nossos irmãos paulistanos.                 

Fala, Internauta!

# A leitora Erna Matarazzo me pergunta de onde surgiu o apelido “Timão” ao qual eu sempre me refiro ao Corinthians. Há duas explicações. Segundo o historiador Thomaz Mazzoni, o apelido é mesmo motivado pelo Corinthians ser um grande time. Dentro do Parque São Jorge, no entanto, a explicação remete a tempos distantes: segundo me informaram, o “Timão” vem da origem náutica do clube alvinegro, conforme mostra o próprio distintivo do Corinthians, onde aparecem, além de um timão, uma âncora, dois remos, uma bóia e cordas. (veja distintivo nessa mesma coluna)

# O assíduo leitor Irineu Carvalho tece comentários contra o Torneio Rio-São Paulo. Segundo palavras do leitor, origina-se no Rio de Janeiro e nos seus dirigentes, grande parte das mazelas que o nosso futebol atravessa. Ele também diz que Farah (presidente da Federação Paulista) é “mil vezes melhor que Caixa d’Água” (presidente da Federação Carioca). Em parte eu concordo, mas a diferença entre Farah e Caixa d’Água é o sotaque.

# Agradeço às manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Silvio Moreira, Olívia Guimarães, Walter Nunes Martins, Cláudio Raposo, César Peixoto, José Eduardo Moraes, Dante Romeiro, Fernando Barbosa, Rosely Forganes, Marcos Pimenta e Eliana Gonçalves. Assim caminharemos juntos. 

# Dedico essa coluna ao inesquecível Ayrton Senna. Durante seu tempo na Fórmula 1, minhas manhãs de domingo foram mais felizes.

 # Até semana que vem.  

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