Futebol
por Luiz Fernando Bindi
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O Gol de Denílson
Sinceramente, eu nunca
achei o meio-campista Denílson um craque indiscutível. É mais um dos bons
jogadores que o Brasil historicamente possui. Foi elevado à suprema condição
de craque por uma torcida fanática e pela mesma imprensa que já deu esse título
a figuras como Cafu, Mauro Silva, Juninho Paulista, Luizão e outras pérolas.
O que de fato me
impressionou foi o gol que Denílson fez contra o Peru, pela Copa América. Tudo
bem, o Peru jogava com dez, tinha uma marcação afrouxada pela ânsia de
empatar e afinal, é um time dos mais fracos.
Mas o gol de Denílson,
a olhada no goleiro adiantado, a bola certeira no famoso “ninho da coruja”,
no único ângulo deixado pelo arqueiro adversário foi de encher os olhos, a
despeito do medíocre futebol que a Seleção vem apresentando.
O que me fez pensar,
com o pensamento às vezes muito crítico que tenho: o futebol brasileiro está
realmente no fundo do poço? É necessário assumir o jogo feio, de chutões e
bolas afastadas para ganhar de Peru, México, Paraguai e Austrália?
Ou será que a
habilidade do brasileiro, a habilidade mais pura, mais abstrata e ao mesmo tempo
docemente concreta ainda vive por aí, escondida, às sombras de Dungas,
Galeanos, Rochembacks, Zagallos e Parreiras?
Não falta ao futebol
brasileiro a paixão pela descoberta quase virginal de um verdadeiro craque em
meio às peladas de Bauru, de Três Corações, de Olinda, de Goiânia, de Cuiabá
e Novo Hamburgo? Será que não é hora de parar de imitarmos Rinus Michels e
seu futebol total e partirmos de volta para o passado onde o bom de bola tinha
sempre lugar garantido, soubesse marcar ou não?
Para cada Tostão
havia um Piazza, para cada Pelé havia um Lima, para cada Ademir havia um Dudu,
para cada Müller havia um Pintado, para cada Sócrates havia um Biro-Biro, para
cada Zico, havia um Andrade... Por que precisamos de um Rochemback mais um Émerson
mais um Eduardo Costa para cada Alex ou Juninho Pernambucano?
Coloquemos os olhos no
passado habilidoso e mágico do futebol verdadeiro e vejamos: Sindelar, na Áustria
de 38; Bobby Charlton na Inglaterra; Puskas nas Hungrias gloriosas; Cruyjff nas
Holandas e Pelé no Brasil. Me chamem de saudosista do não-visto. Mas que tal
então Zico, Sócrates, Neto, Mário Sérgio, Ronaldinho, Maradona, Gullit,
Stoikovic, Zidane, Romário, Hagi... Eles são (ou foram) menos gênios porque não
se preocupavam em marcar?
O que vale mais? Um
gol genial de um Denílson ou o desarme perfeito de um Eduardo Costa? O que te
emociona mais? O que fez o Brasil ganhar três (a de 98 não vale...) Copas, a
Argentina ser o que é, a Holanda ser admirada sem nunca ter sido?
O talento. Apenas o talento. Que reclamem os “modernettes” do futebol: 3-5-2, 4-4-2, 3-4-3... Tudo balela! Se o futebol brasileiro voltasse a dar valor ao craque mais que ao guerreiro não estaríamos comemorando uma medíocre vitória contra o “segundinho” do Peru...
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Publicado no Sampa Online ( http://www.sampaonline.com.br )