A safra é ruim
Oi, gente! Tudo bem?
Muito têm se dito que o futebol brasileiro está em crise, que a culpa é unicamente dos dirigentes, dos estádios mal-cuidados, da dificuldade de acesso, dos ingressos caros, do excesso de jogos... Enfim, são dezenas de justificativas.
Mas o que poucos não querem admitir é que a atual safra de jogadores brasileiros é muito fraca. Os grandes jogadores brasileiros da atualidade são atletas já de alguma idade e não podemos chamá-los de revelações e sim de jogadores já formados.
Há uma frase muito comum que se ouve nas "rodinhas" de futebol pelos bares, casas e estádios: "Com os jogadores que tem, o Brasil poderia formar duas ou três seleções de alto nível". Será que isso ainda é real?
Senão, vejamos: temos excelentes goleiros (Rogério Ceni, Marcos, Carlos Germano, Hélton e Sérgio), todos eles com nível de Seleção Brasileira. Mas, e as outras posições? Cafu é um bom lateral-direito? Para um país que já teve Getúlio, Leandro e Jorginho, admirar o futebol de um jogador como Cafu é querer muito pouco. Zagueiros: qual zagueiro atualmente no Brasil é uma unanimidade, como foram Oscar, Luís Pereira, Vagner Bacharel ou Luisinho? O melhor zagueiro do Brasil hoje é Gamarra, um estrangeiro. Lateral-esquerdo: Roberto Carlos é excelente, mas se acha um gênio. Júnior, que saiu do Palmeiras, também é muito bom e tem humildade. E quem mais? Fica difícil achar.
A situação fica crítica quando chegamos ao meio-campo. Não existe um volante como Falcão, Toninho Cerezzo ou Mazinho. Flávio Conceição, César Sampaio, Vampeta e especialmente Émerson são bons, mas não são jogadores habilidosos e sim, excepcionais marcadores. Mais à frente, observamos Alex, que tem um talento acima da média, mas com uma capacidade de "dormir" em campo igualmente superior. Rivaldo sabe jogar, mas falta-lhe a raça necessária. Juninho Paulista, do Vasco, tem grande habilidade, mas é muito frágil no corpo-a-corpo.
Chegamos ao ataque. E quem encontramos? Um oscilante Ronaldinho Gaúcho, uma incógnita chamada Ronaldinho e um genial Romário (já com trinta e cinco anos). Quem mais? Euller, França, Tuta, Élber, Sonny Anderson? É muito pouco para quem acha que pode fazer duas seleções.
E isso tem uma causa, como tudo, aliás. Como vocês podem ver na minha apresentação, tenho 28 anos. Portanto, acompanho conscientemente futebol há vinte anos. Na minha opinião, dois fatos foram decisivos no rumo que o futebol brasileiro tem tomado: a derrota na Copa da Espanha, em 1982 e a vitória na Copa dos Estados Unidos em 1994.
A Seleção Brasileira de 82 era excepcional e tinha pouquíssimos pontos fracos. Talvez o goleiro (Waldir Perez), não fosse o melhor à época, Leão era melhor; o centroavante (Serginho Chulapa) só jogou porque Careca, o titular, se machucou e foi cortado. Graças ao imponderável do futebol, o Brasil perdeu para uma medíocre Seleção Italiana. Mas a classe daquele time ofensivo e bonito se manteve na memória de todos e muitos ainda lembram de sua escalação titular, onde destacavam-se alguns gênios imortais da bola, como Leandro, Júnior, Falcão, Sócrates e Zico, além do fantástico Telê Santana no comando.
Já em 94, a Seleção Brasileira apresentava um futebol defensivo, onde o fim (no caso, o título), justificava os meios de se chegar a ele. Novamente, através do imponderável que faz o futebol ser maravilhoso, um time com Taffarel, Dunga, Paulo Sérgio, Mauro Silva, Raí e Carlos Alberto Parreira a desfilar sua erudição como técnico. Mas ganhamos a Copa, num campeonato onde a Argentina foi melhor, a Romênia foi melhor. E ganhamos nos pênaltis, de uma Itália envelhecida e alquebrada.
Depois desse título, surgiu a cultura do jogador-marcador, que não precisa ser necessariamente "bom de bola". Dunga (uma pessoa de muito caráter, diga-se de passagem) foi o símbolo disso. O nosso futebol transformou-se num futebol de resultados, onde vale mais ganhar que jogar bonito. Mas, não é mais fácil ganhar jogando bonito?
Dessa forma, não surgem bons jogadores. No último Sul-Americano sub-20 (para jogadores com menos de vinte anos), quem foi nossa maior revelação? Fábio Rochemback, do Inter de Porto Alegre, um volante com muita força e alguma habilidade. E no ataque? E no meio-campo? E na zaga? Ewerthon (Corinthians), Léo (Vasco) e Edu Dracena (Guarani) são as esperanças. Mas podiam ser tantas...
No dia 6 de fevereiro, terça-feira, começou a Copa Libertadores da América (nunca vou falar Copa Toyota Libertadores, o nome oficial), a mais importante competição interclubes da América do Sul. A edição 2001 é a 42a. desse mais do que tradicional torneio, que desde os últimos quatro anos, recebe também times do México (confira a tabela).
Até a década de 90, o Brasil não dava muita importância a esse importantíssimo Campeonato. Os times preferiam disputar campeonatos paulista, carioca e que tais. Tanto que desde 1960 até 1992, os clubes brasileiros só haviam ganho cinco títulos, com Santos (62 e 63), Cruzeiro (76), Flamengo (81) e Grêmio (83). Inclusive, entre os 143 times que já disputaram o campeonato, o time mais bem colocado (o Palmeiras), está em 16o. lugar no Ranking oficial. Em certo momento, perceberam que vencer a Libertadores valia muito, que era um passaporte para ser Campeão do Mundo, o grande objetivo.
Depois do São Paulo (que ganhou em 92 e 93), somente em 1996 a final da Libertadores não teve um time brasileiro. E além do São Paulo, o Grêmio venceu em 95, o Cruzeiro no ano seguinte, o Vasco em 98 e o Palmeiras no ano de 1999.
Nesta edição, serão trinta e dois times divididos em oito grupos, envolvendo clubes de onze países diferentes. Classificam-se para a fase seguinte os dois primeiros de cada grupo.
São esses os grupos:
Grupo 1
Universitario (Peru)
Vélez Sarsfield (Argentina)
Atlético Junior (Colômbia)
Rosario Central (Argentina)
Me parece claro que nesse grupo, o favoritismo pertence aos times argentinos. O Universitário, que tem como destaque o brasileiro Esídio (que foi o jogador que fez mais gols no mundo em 2000), além de uma curiosa camisa bege, conta mais com a altitude do que qualquer outra coisa. Os argentinos do Vélez (campeão em 1994), possuem muita força, um estádio onde pressionam os adversários e agora jogam sem Chilavert, o folclórico goleiro paraguaio que saiu do time depois de dez anos. O Rosario Central, muito tradicional, tem um futebol onde a força predomina e pode com o Atlético Junior, que pratica o típico futebol colombiano: muita habilidade e pouca responsabilidade.
Grupo 2
Sport Boys (Peru)
Universidad do Chile (Chile)
Palmeiras (Brasil)
Cerro Porteño (Paraguai)
O Palmeiras (campeão em 99 e atual vice), se mostra como uma verdadeira incógnita, com um time renovado que precisa de mais experiência e conjunto, mas deve se classificar dado à fraqueza dos seus oponentes. O Cerro Porteño conta com a tradição e a tradicional pressão do Defensores Del Chaco, seu estádio, onde os visitantes jamais são bem recebidos. O Sport Boys, com uma estranha camisa cor-de-rosa e o Universidad do Chile parece que serão os "fiéis-da-balança" do grupo. Quem perder pontos deles, pode cair fora.
Grupo 3
Nacional (Uruguai)
Deportes Concepción (Chile)
Jorge Wilstermann (Bolívia)
San Lorenzo (Argentina)
O San Lorenzo, um time que une a habilidade de Román, um meio campista de alto nível e a força imposta pelo técnico Ruggeri, ex-zagueiro muito vigoroso e raçudo, surge como grande favorito de um grupo fraco. O Nacional, assim como todo o futebol uruguaio, vive em plena decadência técnica. O Jorge Wilstermann (que, em seu nome homenageia aquele que foi o "Santos Dumont" da Bolívia) é muito fraco e o Deportes Concepción tem como ponto a favor o fato de ter eliminado, no Chile, o tradicional time da Universidad Católica.
Grupo 4
Cruzeiro (Brasil)
Olímpia (Paraguai)
Sporting Cristal (Peru)
Emelec (Equador)
O Cruzeiro (duas vezes campeão) e o seu técnico Luiz Felipe Scolari (três vezes campeão) são, claramente, os favoritos deste grupo 4. O Sporting Cristal, que perdeu a final em 95 para o Cruzeiro, conta com um time habilidoso, mas inocente, assim como o Olímpia, o único time paraguaio que já foi campeão da Libertadores, onde se destaca o bom goleiro Tavarelli. Já o Emelec (sigla da Empresa Equatoriana de Eletricidade algo como a Eletrobrás), poderá contar somente com a sorte.
Grupo 5
Guaraní (Paraguai)
El Nacional (Equador)
River Plate (Argentina)
The Strongest (Bolívia)
Mesmo quem não conhece muito futebol percebe que o River Plate é franco favorito nesse grupo. O time argentino é o um dos poucos de fora do Brasil com a mesma qualidade dos times brasileiros, tendo em Saviola um atacante de nível elevado, sem contar com a tradicionalíssima camisa (que aliás, o Vasco copiou na década de 40). O El Nacional, conta com a altitude e o calor de Quito, sua cidade-sede e mais nada. Da mesma forma o The Strongest verá sua participação. Jogando em La Paz -onde fica o estádio em maior altitude do mundo, o "mais forte" (tradução do nome do time) tem somente essa altitude com handicap. Já o Guaraní, do Paraguai volta à Libertadores de algum tempo como uma total interrogação.
Grupo 6
Peñarol (Uruguai)
Vasco (Brasil)
América de Cáli (Colômbia)
Deportivo Táchira (Venezuela)
Nesse grupo, deveríamos ter o São Caetano ao invés do Vasco. Mas por mais uma funesta ingerência de Eurico Miranda, o Vasco da Gama colocou-se nesse grupo. Aparentemente, o grupo é mais difícil, mas será muito fácil para o Vasco se classificar, ainda mais pelo ótimo time que o clube carioca tem (Hélton, Juninhos e Romário à parte). O Peñarol (um dos times que mais ganharam Libertadores), está cada dia pior e mais violento. O América de Cáli sempre aparece com força em campeonatos sul-americanos e certamente será o segundo classificado, exceto alguma clamorosa supresa. O Táchira? O que comentar do futebol venezuelano, a não ser que ele é invariavelmente péssimo?
Grupo 7
Olmedo (Equador)
São Caetano (Brasil)
Cruz Azul (México)
Defensor Sporting (Uruguai)
Nesse grupo, temos o time mais simpático dos útlimos tempos no Brasil, o São Caetano. Mas o surpreendente Azulão tem um time mediano, nada demais para uma disputa de Libertadores. E nesse grupo, enfrentará as altitudes da Cidade do México e de Riobamba (terra do Olmedo). Tanto o Cruz Azul quanto o time equatoriano são certamente fracos, mas a altitude pode prejudicar o time paulista, que terá que se desdobrar e planejar com muito cuidado sua classificação.
Grupo 8
Boca Juniors (Argentina)
Oriente Petrolero (Bolívia)
Cobreloa (Chile)
Deportivo Cáli (Colômbia)
O Boca Juniors, atual campeão da Libertadores e Campeão Mundial, é o favorito disparado desse grupo. Com um time bem armado pelo excelente técnico Carlos Bianchi, onde se destacam o goleiro Abondancieri, os irmãos Schelotto e o oportunista atacante Barihjo, o Boca talvez seja inclusive, candidato ao título do campeonato. O Deportivo Cáli (vice-campeão em 99), tem um time de habilidade, porém taticamente desleixado. Já o Cobreloa (vice em 82), com uma horrível camisa laranja e branca, vem somente com a típica aplicação do jogador chileno. O Oriente Petrolero? Passará incólume pela Libertadores, já que nem com a altitude pode contar, pois sua sede Santa Cruz de la Sierra, fica ao nível do mar.
Pílulas de Idéias
# Na semana retrasada, Fluminense e Santos empataram em 2 a 2, num interessante jogo disputado no Maracanã. Mais interessante seria se um gol claríssimo do Santos tivesse sido validado. Outra vez, uma péssima arbitragem prejudica o futebol. Lamentável.
# Parece que Eurico Miranda mexeu num vespeiro chamado Rede Globo. Nunca me esqueço que a Globo elegeu e depôs Fernando Collor. A pressão sobre Eurico aperta. Espero que ele seja pego e bem punido. Mas desejo que não pare por aí, seja apenas o início de uma faxina no nosso futebol e não somente um merecidíssimo bode expiatório.
# Darío Pereyra caiu. A culpa é dele ou de uma diretoria que não entende de futebol e que contrata os medianos Otacílio e Gléguer e o veteraníssimo Gallo?
# E Luxemburgo voltou no lugar de Darío. Luxemburgo é o único técnico realmente bom que temos no Brasil nos dias de hoje. Mas será que ele vai ter condições psicológicas de tirar o Timão do buraco? Como já disse o excelente e inspirador José Trajano: ou o Luxemburgo tira o Corinthians da lama ou o Corinthians afunda o técnico no lodo. Mas espero que o time melhore. Uma torcida apaixonada não merece sofrer por causa da incapacidade de uns e outros.
# No jogo em que o São Paulo renasceu e Vadão respirou, quando o time do Morumbi venceu o Santos por 4 a 2, o bom atacante Renatinho ao fazer um gol, fez um "X" com os braços sobre o peito, à guisa de comemoração. Na Rádio Bandeirantes, disse que foi uma homenagem à Independente, a torcida organizada do São Paulo. Não sabe o jovem Renatinho que esse é um símbolo dos violentíssimos hooligans, os sanguinários torcedores ingleses, que os nossos bobos de arquibancada repetem. O menino (um ótimo jogador, aliás) precisa ser mais bem orientado para não repetir esse tipo de bobagem.
# Eduardo José Farah disse que não mudaria a tabela do Campeonato Paulista sob nenhuma alegação (afirmação essa feita em entrevista que fiz com ele na Rede Vida no começo deste ano). E na terceira rodada, Portuguesa Santista e Corinthians, originalmente marcado para o dia 4 de fevereiro, foi jogado dia 3. Por que, presidente?
# Me assustou muito os carinhos verbais entre Pelé e Ricardo Teixeira (presidente da CBF). O que Pelé tem a ver com um dos funestos cartolas brasileiros? Segundo o ex-jogador, o intuito é salvar o futebol do Brasil. Salvar o futebol se juntando com Ricardo Teixeira? Muito estranho e Pelé tem muito a explicar.
# Joaquim Mamede Júnior, retirou sua candidatura à presidência da Confederação Brasileira de Judô. Espero que seja o marco do fim de umas das mais tristes e longas- passagens de oligarquia esportiva da história do Brasil.
# Começou o Brasileiro Masculino de Basquete. Assisti Botafogo e Casa Branca/Leitor. Apesar de jornalistas como Fabio Sormani, Álvaro José e Fernando Pratti entender mais de basquete do que eu, arrogo-me o direito de dizer que fiquei muito impressionado com o ala Marcelinho, do time carioca, Vi outros jogos, também muito bons. O basquete brasileiro sofre do mesmo mal do futebol espanhol: uma Liga forte e uma seleção nacional sofrível. O que será que acontece?
# A Rádio Bandeirantes lançou a idéia e pego carona: aí vai minha Seleção Paulista de Todos os Tempos, com jogadores, brasileiros ou não, que já disputaram Campeonatos Paulistas. Leão; Arce, Darío Pereyra, Luís Pereira e Roberto Carlos; Mazinho, Falcão, Sócrates e Neto; Careca e Evair. Concordam? Enviem as suas idéias que eu publico!
Fala, Internauta
# Agradeço, de mãos postas, a todas as manifestações enviadas. Um abraço aos leitores Rogério de Andrade, Alexandre Degan, Rogério Ribeiro, Fabrício Sampaio, Christiane Gianico, Silvio Atanes, Claudia Levy, Mariana Cotrim, Eliana Gonçalves, Oswaldo Barbosa, Erna Matarazzo, Alexandre Pimaco, Maria Wally, Orlando Pimenta, Estevão Mota, Marinus Jan van der Molen e os brilhantes Luciano Dorin e Ricardo Capriotti. Como eu já disse, assim caminharemos juntos.
# Dedico essa coluna ao talentoso Herbert Vianna, que confio que vencerá esse obstáculo. Paz de espírito a ele e sua família.
# Até semana que vem.
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