por Ludmila Oliveira 
Novembro, 2001
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Armas biológicas e ataques bioterroristas 

O uso de uma arma biológica leva o mundo a pensar no que pode ocorrer se houver opção por alternativas ainda mais danosas. Nesse arsenal, o vírus ebola é considerado um dos piores. Há também o gás laranja (componente químico que destrói a vegetação), usado para descobrir quem estivesse escondido nas florestas. 

Há alguns anos, o cientista russo Ken Alibek contou ter colaborado na fabricação  de toneladas de vírus de varíola geneticamente fundidos com o ebola. O ebola mata até 100 % das pessoas contaminadas e é contagioso. Em sua forma natural, é preciso contato com secreções de um doente para que haja contágio. 

A nova arma ganhou a potência mortal do vírus de origem africana combinada com o alto grau de contágio da varíola, doença considerada extinta desde a década de 70. Um dos últimos casos conhecidos de epidemia de

Armas Biológicas Efeito: Risco: Como seria o ataque Como evitar
Varíola Febre, calafrios, dores nas costas e erupções na pele. Muito contagiosa, poderia começar uma epidemia mundial. Erradicada em 1977, terroristas só obteriam o vírus se algum país, como o Iraque, mantiver reservas clandestinas. Bastaria espalhar amostras do vírus ou mandar uma pessoa infectada até o país-alvo. Existem vacina e tratamento para recém-contaminados. Uma resposta rápida evitaria a epidemia.
Anthrax Esta bactéria, extremamente resistente, tem 90% de chance de ser fatal se atacar o pulmão. Não é contagiosa. Já foi processada com sucesso por terroristas. Para destruição em massa, seria preciso uma quantidade enorme. Pode ser transformada em pó e bombardeada, borrifada ou liberada em reservatórios de água. Existe vacina, mas há dúvidas quanto à eficácia em casos pulmonares. Tratável se identificada rapidamente.
Peste Pode atacar os vasos linfáticos ou os pulmões. Transmissível entre pessoas ou por meio de pulgas de ratos. Um ataque é possível, mas improvável pela dificuldade de obter amostras apropriadas e processá-las. Pode ser transformada em aerossol e espalhada por ruas, prédios ou reservatórios de água. Existe vacina. Antibióticos são eficazes se usados nas primeiras 24 horas.
Brucelose Febre intermitente, dores nas articulações e sudorese noturna que se mantém durante meses. Não é um agente provável devido à mortalidade de menos de 2% e a dificuldade de obter a variação letal. Pode ser transformada em aerossol e espalhada por ruas, prédios ou reservatórios de água. Não existe vacina. Tratamento difícil e de sucesso moderado se efetuado rapidamente.
Ebola Febre, dor de cabeça, fadiga e diarréia. Morte depois de uma semana em mais de 50% dos casos. Improvável. O vírus é perigoso de transportar e processar. Difícil obter uma amostra apropriada. Bastaria levar amostras do vírus ou enviar uma pessoa infectada até o país-alvo. Não há vacina e nem tratamento. Algumas terapias, poucos testadas, podem aumentar as chances de sobrevivência.

varíola dá a medida de seu potencial de contágio: um único doente contaminou outras 38 pessoas na Iugoslávia, em 1972. Levou um mês para as autoridades descobrirem a doença – o suficiente para que ela atingisse 10.000 pessoas, das quais 35 morreram.        

Nos laboratórios militares já se cultiva um bacilo transmissível pelo ar de pessoa para pessoa. Basta o infectado tossir para pôr em circulação milhões de outros bacilos. 

Muitas pessoas devem se perguntar se há algum risco de realmente acontecer uma guerra biológica. “ Sem dúvida nenhuma, pois alguns países têm na arma biológica a sua maneira mais eficiente de se proteger e de se impor no âmbito internacional ”, disse a professora de Ciências do Ensino Fundamental do Colégio Prof. Ennio Voss, Elaine Biagioni.  

Para as pessoas que ainda não sabem o que são exatamente “ataques bioterroristas”, a professora Elaine explica: “São ações específicas, praticadas por pessoas que se utilizam de microorganismos nocivos para atacar pessoas ou grupos delas, amedrontando as demais.” 

Ela revela quais são os principais sintomas das doenças causadas por esse tipo de arma: “Após ingeridos, aspirados ou submetidos ao contato com a pele, provocam reações que vão de simples vermelhidão ou irritação da pele, passando por síncopes cardíacas e até a morte. Se aspiradas, afetam diretamente o sistema imunológico”. 

Nos casos de Antraz nos Estados Unidos. é a primeira vez que o terrorismo recorre com tamanho sucesso a estas armas tão poderosas, mas elas não são novidade na humanidade. “ Surgiram, inicialmente, como defesa e fruto de experiências mal sucedidas, visando encontrar formas de gerar poder ”, destaca Elaine.   

No século  XVI, o governador  do Rio de Janeiro, Antônio de Salema espalhou no lugar onde hoje está o bairro da Gávea roupas e objetos contaminados com varíola para matar os tamoios daquelas matas. O método funcionou, assim como deu certo durante o processo pelo qual os ingleses exterminaram tribos inteiras de índios americanos, distribuindo presentes infectados entre eles. “ As armas biológicas mais modernas começaram a ser feitas nos EUA, na época da Guerra do Vietnã e um pouco antes, por ocasião da 2ª Guerra Mundial ”, afirma Elaine.

Perguntada se acha que é necessário ter laboratórios de alta tecnologia para desenvolver as armas biológicas, a professora Elaine opina: “Sim, sem dúvida, pois gerar, desenvolver e controlar esses microorganismos requer alta tecnologia. Os países com condições de desenvolver e que, provavelmente, já produzem essas armas, são: EUA, Cuba, Japão, China, Afeganistão, Rússia, Alemanha, entre outros”.     

Outra doença sempre lembrada nessas ocasiões em que se mencionam as pragas biológicas é a peste bubônica. Três epidemias dessa doença mataram cerca de 200 milhões de pessoas na Europa durante a Idade Média. Hoje, a variedade bubônica, transmitida do rato para o homem, está praticamente descartada como arma. 

No grupo de armas biológicas, o carbúnculo (nome que se dá ao antraz no Brasil) é considerado de alta precisão e baixa dispersão. Permite escolher os alvos a dedo, com poucas vítimas colaterais. Mas, dependendo do uso, o estrago poderia ser grande.  

Em declaração à revista Veja, o infectologista Kleber Luz, do Centro Aventis-Pasteur de Doenças tropicais, 50 quilos dessa praga atirados sobre a área metropolitana do Rio de Janeiro matariam pelo menos 180 mil pessoas.