O
uso de uma arma biológica leva o mundo a pensar no que
pode ocorrer se houver opção por alternativas ainda mais
danosas. Nesse arsenal, o vírus ebola é considerado um
dos piores. Há também o gás laranja (componente químico
que destrói a vegetação), usado para descobrir quem
estivesse escondido nas florestas.
Há
alguns anos, o cientista russo Ken Alibek contou ter
colaborado na fabricação
de toneladas de vírus de varíola geneticamente
fundidos com o ebola. O ebola mata até 100 % das pessoas
contaminadas e é contagioso. Em sua forma natural, é
preciso contato com secreções de um
doente para que haja contágio.
A
nova arma ganhou a potência mortal do vírus de origem
africana combinada com o alto grau de contágio da varíola,
doença considerada extinta desde a década de 70. Um dos
últimos casos conhecidos de epidemia de |
Armas Biológicas |
Efeito: |
Risco: |
Como seria o ataque |
Como evitar |
Varíola |
Febre,
calafrios, dores nas costas e erupções na pele.
Muito contagiosa, poderia
começar uma epidemia mundial. |
Erradicada
em 1977, terroristas só obteriam o vírus se algum
país, como o Iraque,
mantiver reservas clandestinas. |
Bastaria
espalhar amostras do vírus ou mandar uma pessoa
infectada até o
país-alvo. |
Existem
vacina e tratamento para recém-contaminados. Uma
resposta rápida
evitaria a epidemia. |
Anthrax |
Esta
bactéria, extremamente resistente, tem 90% de
chance de ser fatal se atacar
o pulmão. Não é contagiosa. |
Já foi
processada com sucesso por terroristas. Para
destruição em massa, seria
preciso uma quantidade enorme. |
Pode
ser transformada em pó e bombardeada, borrifada ou
liberada em
reservatórios de água. |
Existe
vacina, mas há dúvidas quanto à eficácia em
casos pulmonares. Tratável se identificada
rapidamente. |
Peste |
Pode
atacar os vasos linfáticos ou os pulmões.
Transmissível entre pessoas ou por
meio de pulgas de ratos. |
Um ataque
é possível, mas improvável pela dificuldade de
obter amostras apropriadas
e processá-las. |
Pode
ser transformada em aerossol e espalhada por ruas,
prédios ou
reservatórios de água. |
Existe
vacina. Antibióticos são eficazes se usados nas
primeiras 24 horas. |
Brucelose |
Febre
intermitente, dores nas articulações e sudorese
noturna que se mantém durante
meses. |
Não é
um agente provável devido à mortalidade de menos
de 2% e a dificuldade
de obter a variação letal. |
Pode ser
transformada em aerossol e espalhada por ruas,
prédios ou
reservatórios de água. |
Não
existe vacina. Tratamento difícil e de sucesso
moderado se efetuado
rapidamente. |
Ebola |
Febre,
dor de cabeça, fadiga e diarréia. Morte depois de
uma semana em mais de 50% dos casos. |
Improvável.
O vírus é perigoso de transportar e processar.
Difícil obter uma amostra
apropriada. |
Bastaria
levar amostras do vírus ou enviar uma pessoa
infectada até o país-alvo. |
Não há
vacina e nem tratamento. Algumas terapias, poucos
testadas, podem
aumentar as chances de sobrevivência. |
|
varíola
dá a medida de seu potencial de contágio: um único
doente contaminou outras 38 pessoas na Iugoslávia, em
1972. Levou um mês para as autoridades descobrirem a doença
– o suficiente para que ela atingisse 10.000 pessoas,
das quais 35 morreram.
Nos
laboratórios militares já se cultiva um bacilo transmissível
pelo ar de pessoa para pessoa. Basta o infectado tossir
para pôr em circulação milhões de outros bacilos.
Muitas
pessoas devem se perguntar se há algum risco de realmente
acontecer uma guerra biológica. “ Sem dúvida nenhuma,
pois alguns países têm na arma biológica a sua maneira
mais eficiente de se proteger e de se impor no âmbito
internacional ”, disse a professora de Ciências do
Ensino Fundamental do Colégio Prof. Ennio Voss, Elaine
Biagioni.
Para
as pessoas que ainda não sabem o que são exatamente
“ataques bioterroristas”, a professora Elaine explica:
“São ações específicas, praticadas por pessoas que
se utilizam de microorganismos nocivos para atacar pessoas
ou grupos delas, amedrontando as demais.”
Ela
revela quais são os principais sintomas das doenças
causadas por esse tipo de arma: “Após ingeridos,
aspirados ou submetidos ao contato com a pele, provocam
reações que vão de simples vermelhidão ou irritação
da pele, passando por síncopes cardíacas e até a morte.
Se aspiradas, afetam diretamente o sistema imunológico”.
Nos
casos de Antraz nos Estados Unidos. é a primeira vez que
o terrorismo recorre com tamanho sucesso a estas armas tão
poderosas, mas elas não são novidade na humanidade. “
Surgiram, inicialmente, como defesa e fruto de experiências
mal sucedidas, visando encontrar formas de gerar poder
”, destaca Elaine.
No
século
XVI, o governador
do Rio de Janeiro, Antônio de Salema espalhou no
lugar onde hoje está o bairro da Gávea roupas e objetos
contaminados com varíola para matar os tamoios daquelas
matas. O método funcionou, assim como deu certo durante o
processo pelo qual os ingleses exterminaram tribos
inteiras de índios americanos, distribuindo presentes
infectados entre eles. “ As armas biológicas mais
modernas começaram a ser feitas nos EUA, na época da
Guerra do Vietnã e um pouco antes, por ocasião da 2ª
Guerra Mundial ”, afirma Elaine.
Perguntada
se acha que é necessário ter laboratórios de alta
tecnologia para desenvolver as armas biológicas, a
professora Elaine opina: “Sim, sem dúvida, pois gerar,
desenvolver e controlar esses microorganismos requer alta
tecnologia. Os países com condições de desenvolver e
que, provavelmente, já produzem essas armas, são: EUA,
Cuba, Japão, China, Afeganistão, Rússia, Alemanha,
entre outros”.
Outra
doença sempre lembrada nessas ocasiões em que se
mencionam as pragas biológicas é a peste bubônica. Três
epidemias dessa doença mataram cerca de 200 milhões de
pessoas na Europa durante a Idade Média. Hoje, a
variedade bubônica, transmitida do rato para o homem, está
praticamente descartada como arma.
No
grupo de armas biológicas, o carbúnculo (nome que se dá
ao antraz no Brasil) é considerado de alta precisão e
baixa dispersão. Permite escolher os alvos a
dedo, com poucas vítimas colaterais. Mas, dependendo
do uso, o estrago poderia ser grande.
Em
declaração à revista Veja, o infectologista Kleber Luz,
do Centro Aventis-Pasteur de Doenças tropicais, 50 quilos
dessa praga atirados sobre a área metropolitana do Rio de
Janeiro matariam pelo menos 180 mil pessoas.
|