Pernilongos no inverno ?
Maio 25, 2001

Os moradores de alguns bairros próximos ao Rio Pinheiros tem sentido, nas últimas semanas, os desagradáveis efeitos da proliferação de mosquitos.

Moacir Dalboni, biólogo da Seção de Controle de Roedores e Vetores [NR: "Vetor" é qualquer inseto que transmite doenças] da Divisão de Zoonose do Município de São Paulo, explicou que o Rio Pinheiros recebe diariamente, nos seus 27 quilômetros de extensão, uma carga de poluentes muito elevada. Apesar de praticamente não haver vida biológica (peixes, por exemplo) no rio, há muito alimento orgânico, criando um ambiente ideal para a proliferação de larvas de uma espécie de mosquito, o Cúlex Quinquefasciatus.

Este mosquito vive, na na temperatura ideal -entre 26°C e 28°C-, até dez dias. "Há oito ou dez anos", explica Moacir: "trabalhávamos em períodos regulares: intensamente durante a primavera e o verão, e efetuando uma manutenção bem básica no outono e no inverno". Nos últimos anos houve uma mudança climática significativa, "e estamos trabalhando direto, já que o comportamento do mosquito está diretamente relacionado à condição climática".

O mosquito tem, na sua vida, duas fases: uma aquática e outra alada. A Divisão de Zoonose monitora constantemente o Rio, e quando é constatada a presença de mosquitos aplica inseticidas na água, para matar as larvas, e nas margens, para eliminar os mosquitos. Mas esta ação nem sempre é possível, devido, principalmente, às características atmosféricas. Às vezes as correntes de ar impedem a aplicação dos produtos químicos, contribuindo para dispersar os mosquitos, que passam a perturbar a população, num raio de até 2,5 quilômetros do foco. Entra em ação, então, o popular "fumacinha", aplicando -nos bairros onde o mosquito está incomodando- um veneno chamado "fog". Mas este recurso tem de ser  utilizado com muita cautela, com rigor técnico, para não levar inseticida para os moradores numa área urbana. Em algumas áreas nem sequer é possível utiliza-lo, devido a fatores restritivos tais como a presença de doentes ou alta concentração de pessoas. 

Existe perigo de transmissão da dengue pelo Cúlex? "Não", responde Moacir. "A transmissão de doenças é uma interação entre o agente infeccioso e o vetor, e o Cúlex não transmite o vírus da Dengue. Até o momento só está causando incômodo". Mas nada impede que o Cúlex possa vir a ser vetor de outra enfermidade, já que a fêmea, ao chupar sangue, entra em contato com algum hospedeiro, seja homem, cavalo, ave ou algum outro ser.

A solução definitiva ao problema seria a eliminação da poluição do Rio Pinheiros. O processo de flotação, a ser implantando no Rio Pinheiros no segundo semestre de 2001, vai ajudar, mas "tem de ser efetuado um trabalho violento de regularização de esgoto" para eliminar de vez as causas do problema. Até lá, a Secretaria de Saúde continua estudando constantemente novas medidas para combater mais eficazmente o mosquito.

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