Comunicação
por Elmo Francfort Ankerkrone
Janeiro 18, 2001

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O Repórter Esso 

Nossa coluna desta semana fala sobre o Repórter Esso. O telejornal que trazia a pontualidade aliada à credibilidade, que até hoje são dois pontos essenciais do tele e radiojornalismo brasileiro. Esse, que com sua inconfundível fanfarra, iniciava seu programa jornalístico com frases consideradas históricas pelo povo brasileiro:

- "Amigo ouvinte, aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da história."

- "Amigo telespectador, aqui fala o seu Repórter Esso, o primeiro a dar as últimas."

Em um alternado ritmo entre ouvinte e telespectador o Repórter Esso revolucionou uma época inteira. Foram quase quarenta anos de sucessos. Por vezes, nos referimos ao Repórter Esso da rádio, em outras falamos daquele simpático e padronizado Repórter Esso da televisão. Este sempre patrocinado pelas empresas petrolíferas Esso do Brasil, produzido pela Agência McanEriksone tinha boa parte das notícias fornecidas pela UPI (United Press Internacional).

O Repórter Esso não era oferecido pela Esso só no Brasil, mas em muitos países do globo. Em sua maioria, como nos Estados Unidos, utilizada o nome de "Esso Reporter".

Para muitos professores de comunicação, o Repórter Esso foi um enorme erro jornalístico. Isto visto por uma visão de integração nacional. Já que com seu padrão, o jornal não dava impressões regionalistas e não expressavam grandes emoções faciais. Mas seu caráter noticioso, deixava o ouvinte e o telespectador ligados no jornal até o final, para ouvi-los com atenção e concentrados. Quando este acabava, era para muitos como um alívio, de saber que não tiveram notícias desagradáveis ou frustrantes, isto, claro, quando não as tinham! Mas sempre acabava deixando o povo com a impressão de que a missão estava cumprida, que as notícias estavam dadas.

Visto na posição atual dos acontecimentos, o Repórter Esso é o que hoje temos como Praça TV (SPTV, RJTV, São Paulo em Manchete, Rio em Manchete). Ele era feito regionalmente sempre, cada televisão das Emissoras Associadas tinham o seu telejornal. Porém, todos seguiam o mesmo padrão. O baiano tirava o sotaque e transformava-se naquela fôrma da Esso, o gaúcho também, o paulistano, o carioca e todos os outros. O primeiro telejornal a quebrar este padrão vocal foi o inicialmente Jornal Excelsior, que depois viria a ser o famosíssimo Jornal de Vanguarda (que ainda terá uma matéria especial sobre o mesmo nesta coluna).

A quebra desse padrão só viria quando iniciou-se o telejornalismo em rede, em 1969 com o Jornal Nacional. Só que a falta de regionalismo não resistiu a duas décadas e no início da década de 80, as emissoras voltaram a fazer seus noticiários regionais: em São Paulo, a Globo com o seu SP TV e a Manchete com seu São Paulo em Manchete. Estes que tiveram suas bases no noticiário regional Repórter Esso, mas agora o regionalismo está bem presente.

Momentos Jornalísticos

O Repórter Esso marcou época não só pelo padrão e por ser regionalista como já disse. Ele foi importante diversas vezes, por dar notícias inéditas e de impacto, muitas vezes. Foi, com certeza, o mais importante noticioso do rádio brasileiro. Iniciou-se em 28 de agosto de 1941, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, ficando por lá até o ano novo de 1969. O repórter encerrou o noticiário quase chorando, mesmo que tentasse manter o padrão de voz. Em São Paulo, pela Rádio Tupi ele se consagrou, logo depois virando telejornal em 1º de abril de 1952 (não é mentira!), às 19h45. Depois estabeleceu-se na grade de programação o horário das 19h para sua exibição.

Em São Paulo, pela TV Tupi, teve Kalil Filho com o primeiro Repórter Esso. Na TV Tupi do Rio, Luis Jatobá esteve a frente do jornal por pouco tempo e depois Gontijo Teodoro o assumiu. Em Porto Alegre, na TV Piratini, Helmar Hugo; na TV Rádio Clube do Recife, Edson Almeida; e na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, Luiz Cordeiro na apresentação.

Vargas foi notícia constante tanto na TV como nos tempos do Repórter Esso da rádio - tempos onde o jornal havia se tornado o maior informante da 2ª Guerra Mundial. Voltando à Getúlio, sua posse, suas emendas, seu retorno à política, o atentado à Carlos Lacerda e até mesmo o seu próprio suicídio foram narrados pelo noticiário.

Conforme o Almanaque da TV, de Rixa, o Repórter Esso causou muitas vezes sensação nos telespectadores.Pelos repórteres Murillo Neri, Flávio Cavalcanti e Rubens Medina conseguiram uma entrevista exclusiva com o presidente John Kennedy, dentro da Casa Branca, uma reportagem que diziam ser impossível até mesmo à imprensa norte-americana. Só que o furo jornalístico foi exibido no Rio de Janeiro pelo canal 13, TV Rio, já que o pai de Rubens Medina era produtor do programa "Noite de Gala", desta emissora no ano de 1961. Em 1960, entrevistaram Jean-Paul Sartre e sua esposa pela Excelsior. Em 1961, o astronauta soviético Yuri Gagarin foi notícia.

E na TV Tupi em 1969, o Repórter Esso fez uma cobertura completa de chegada do homem à Lua. Só que causou um dos grandes micos da história da televisão: ficaram horas esperando as imagens do homem chegando ao solo lunar e não estas chegavam! Heron Domingues, famoso Repórter Esso desde a "Era do Rádio", ficava a falar:

" - Dentro de instantes, imagens do homem na Lua."

E as pessoas ficaram a esperar. Por isto, é que se entende como foi visto esta exibição nas televisões naquele dia, porque a demora foi o tempo de um vizinho contar para o outro da exibição, o outro ligar para mais um, que liga para a tia que mora longe, que ligou para o primo de outro estado, que...bem, não preciso explicar como funciona a comunicação humana. Não?

Só que com o sucesso de um ano do Jornal Nacional e o crescimento da Rede Globo, a Rede Tupi tirou do ar, em 31 de dezembro de 70, um ano depois de sair do rádio, todos os Repórter Esso de todas as Emissoras Associadas.

Kalil Filho, o nosso repórter

Depois de ter falado da figura calcada do Repórter Esso e de seu padrão, aqui falarei sobre uma das pessoas que se submeteram ao padrão, aliás, o primeiro de todos: Kalil Filho. Este foi o primeiro Repórter Esso televisivo do Brasil e de São Paulo. Meu tio, Luiz Francfort, na época trabalhava na TV Tupi e teve o prazer de conhecer esta pessoa. Kalil Filho era um repórter Esso que era considerado por todos como uma figura calma e muito simpática, trazia sentimento na notícia, mesmo que tivesse que seguir o padrão da Esso. A pessoa Kalil Filho era um grande brincalhão e assim como no jornal, também era a simpatia em pessoa.

Infelizmente, Kalil Filho não chegou até os últimos dias do Repórter Esso de São Paulo. Morreu em um acidente de carro, por volta da metade da década de 60.

Independente de meu tio trabalhar na Tupi, conhecemos o irmão de Kalil Filho, que se tornou médico da família por anos. Falamos do Doutor Samiro José Kalil, que hoje é um dos donos dos planos de saúde Medial e Alvorada. O Doutor Kalil havia operado a tia de minha mãe, Tita, e depois da operação veio conversar com meus pais. Nesta conversa, depois de anos já o tendo como nosso médico, perguntaram a ele tinha alguma ligação com o repórter Kalil Filho. Foi aí que ele os contou que era irmão do Repórter Esso paulistano.

Os Intervalos e a abertura

Nos intervalos do Repórter Esso as gotinhas de gasolina animadas faziam grande sucesso, que tornaram-se famosas por anos, sempre anunciando os produtos da Esso.

A abertura do Repórter Esso era a de um tigre que vinha correndo e depois ia até a televisão, a ligava, esperava "esquentar", enquanto corria até sua poltrona e logo passavam para a imagem de um planeta girando. Logo este planeta tornava-se apenas um círculo oco, onde apareceria a palavra Esso. E assim, o círculo tornava-se oval e aparecia em cima desta órbita a palavra "O SEU REPÓRTER"... "ESSO", que já estava dentro da mesma. Isto tudo sempre ao fundo da mesma fanfarra do rádio.

E assim, amigo leitor, você acaba de ser testemunha ocular da história do Repórter Esso. Boa noite.


reporter_esso1.gif - Final e assinatura da vinheta do Repórter Esso na TV. TV Tupi, década de 60. Arquivo CCSP.

reporter_esso_estudio.gif - Estúdios do Repórter Esso. Década de 60. Arquivo CCSP.
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